segunda-feira, 16 de julho de 2012

Conversa

É verdade, eu sei
Não me faço entender
Mas prender pra quê?
Se é tão simples assim, amar assim
E você diz que é tão prática e que tudo você sabe
Mas será?

A razão vale quanto?
E quanto cabe?
E o que se tem, já ninguém sabe
Mas tanto faz
Se fui eu quem sempre complicou mais

E ainda assim
Em abandono velo o sono de sonhar
Só pra te ver melhor
Já sei de cor, todos os quais e os poréns
Tudo que vem pra acalmar e o pior

A intenção de entender
Agora já passou
Tudo ficou pra trás
Sonho é botão de amor
É flor que não se dá
Vai ser como a roupa do rei
Isso eu já sei!

Vai ter que explicar
A eles quem eu sou
E o que restou... de nós depois da dor
Só nós podemos ver
E eu não pude responder as perguntas que o tempo calou

E se hoje então
Já corro o risco de me acharem louco
Falta tão pouco
Se foi tudo em vão
Solto sua mão
Já que tem asas pra voar

Não posso sentir o vento
No primeiro momento
Tudo passa pelo crivo da razão
E depois sim, trago pra mim
Toda essência
O ar que invade o pulmão

Agora que me vejo só
Me encontro bem mais
Do amargo faço cais
Pra ancorar o sentimento
Acelerar o esquecimento
De tudo que vivi, do que eu li

Não estou aqui pra ser só um
Se tenho enfim a quem amar
É... Eu sei, vai estar lá
Aquele alguém
Que prometeu me libertar

Não quero a morte de má vontade
Prefiro a sorte
Um corte sem piedade
Um lago de pranto, de fogo
Um canto que pare esse jogo






Texto de Tuka Borba e Flávia Luiziane

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Máxima

Isolado no abatido pensamento
Julgado, fingido nascimento
Sentimento tingindo a dor
Esquálido firmamento, banindo o amor

Eu vejo enquanto espero
O que eu mais quero não virá
É muita areia para ampulheta
Carrega as lágrimas até o mar

Se fosse fácil, eu era
Perto, quem me dera estar lá
Luz, apagado coração
Claro, brocardo que divaga
Mão, que afaga minha cor

Para sentir na pele, abrir os poros
Para caber no colo, amor de um coração deserto
Bem mais perto, bem mais perto

Desinteressadamente observando os esqueletos na fila
Lutando com a noção de que a vida não é um filme

Precisando de um papo de bar
Barbas de molho
Convenções e conveniências
A noite vai ser longa
O dia sem graça, e eu já fiz de tudo

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um e só

Só, eu vou indo voltar pra nós
Quis ser abrigo, alento à voz
Não, não passo, volta o rastro

É sentimento sem perdão

Clareia e vem, desdobra o trem de luz
Eu pus no armazém
De cada estrada, de caminhão passou
Chegou a bater na dor, voltou

Cruzou por mim, não era eu
Adeus, atrás, assim, assim

E aqui, corri pra ser o mar, não fui
Perdi naquela noite, açoite teu

É céu, vazio de estrelas
Pelas janelas, pelas beiras, velhas canções
E só, razões pra um, é dois, é ruim

Depois de cada frase, um ponto
Um conto que não teve fim

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

(Continua) São de nós dois

Lata de tinta, lata de esmola
La tava frio demais tempo ao teu lado
Videi da vingan saiba que eu não ligo
Pra tanta pirra sai daqui samba lá que é teu chão

Tão doce é teu pran tu é quem poderia
Roubar esse meu cora são dez pras duas
E eu perdi o so nunca vem
Cadê tua cal mas tá cedo ain dá pra mim o teu bem

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Das Primárias

Cinza no céu, papel de ilusão
E cadê teu azul?

Há de estar, no anil da razão
No brilho do olhar
Despontando no sul, das cores que eu sei
Naveguei verde mar

Em três tons que escolhi
Eu pintei branca vela
Aquarela de barco, vermelho na tela

Amarelo na fonte, horizonte borrado
E um punhado de chão pra riscar
Um coração apagado

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Assim

Procure em mim qualquer razão
Mas não, nem pense que eu não vou

Não suporto teu amordaçado
Desbotado coração
Da cavidade, do despeito
De direito, de quem tem porque convém

Não me importo com essa dor que te alimenta
Que sustenta tua sina
Guilhotina tão sangrenta

Quidam pagão, pendão sem brilho
Rastilho sem calor
De frase pronta, que afronta, afã de amor

Vou queimar toda essa tralha, teu tear
Que é pra anular tecidos teus
De cor em cor, de coração, de assim será
Sei não, a não ser por esse anel
Nem dá mais pra te contar
Onde eu não vou te ver passar

Sem um alento qualquer, pra encontrar em mim
Tua fé fenecerá no malmequer
E quedará, assim...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Preciso de um Paraquedas

Ontem -não necessariamente o dia anterior a este que você está lendo- fugi de casa
Coloquei meu colete à prova de balas de goma
Peguei meu martelo de martelar bife e saí
Não olhei para trás
Não olhei para os lados

Caminhei...
Corri...
Observei...

Acendendo estrelas com palitos de fósforos nos lugares mais escuros
Pelas ruas vazias
A caminhada solitária rumo a lugar algum
Parecia, no mínimo, interessante

Escutei passos, mas não eram os teus
Tive medo!
Uma chuva refrescante começou naquele instante e me confortou

As dúvidas vieram mais intensamente naquele momento
E por algum tempo não conseguia mexer-me e nem pensar em nada
Fui à beira do precipício das interrogações!

Pulo ou não pulo?
Pular ou não pular?
Eis a questão...

Verde.
Verde?
Verde!

Como já foram meus sonhos um dia

É a folha que cai planando sobre meus ombros
No ritmo da música que mais gosto

Levanto a cabeça e vejo estrelas
Resolvo voltar para casa e não pular

Voltei chutando pedras...


Willyam Braga de Almeida

Encerramento

Sou tudo quanto em mim houver espaço
E traço um fim para cada parte ou pedaço
Da vida dura, a amargura teço em nó
A dor passada vira pó e eu adormeço

Esqueço o tamanho da ferida e me proibo de beber
Vou me abster de alma sofrida

Na escala, desço um tom para cantar baixo
E é aí que eu me acho

Correu... Passou...
É o tempo que chegou para me fazer agir

Estive em todos os lugares, procurando
Em demasiado descompasso apressado
O que se achava bem aqui, e que sempre
Sempre esteve ao meu lado

Renovação

Agora há pouco incendiei quase 10 anos de história em textos e escritos
Com prazer coruscante, revolvi tudo
Até que, das desbotadas cores do passado
Não restassem nada além do cinza
Catártico?
Diria que é pouco para definir a sensação
De queimar o passado para iluminar o futuro


Claudio Chagas

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Meia-noite

Não me importo com as tuas cartas secretas
Se não vai me mandar
Quando os ponteiros do relógio se aproximarem do paralelismo perfeito
Em altura máxima na vertical, entenderei tudo
Ideias concretas!

Não é um jogo de gostar
Não é uma brincadeira de ler papéis que não vão chegar

Quase sempre, quase nunca me pego conferindo a caixa de correio
Quase sempre, quase nunca ligo pros teus anseios
Quase sempre, quase nunca ouço o latido dos cães para o carteiro

Não é um jogo de amar
Não é um brinquedo que saiba andar

É impossível medir o pulo, antes de encontrar a poça d'água
Sinta o vento com a alma
A coisa mais importante do mundo, não é nada de mais

Calma, calma, calma...

Você não sabe voar
Você não sabe voar

Willyam Braga de Almeida

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Lampejo 1

Se eu soubesse o que se sabe do hoje, que foi esquecido no passado, mesmo sabendo, que não se sabia mais nada que pudéssemos um dia termos ficado sabendo, por alguém que acabou esquecendo de nos contar o que sabia...
Eu teria esquecido de esquecer, o que um dia alguém esqueceu de demonstrar, me dizendo que na verdade, eu nunca soube esquecer o que um dia pensei que podia...

Fez Sentido

Então, toda anunciação fez jus à sua promessa, sem pressa
Dois pontos, uma ponte
Duas vidas e uma estrada de alma lavada

Na noite de lua calada e insonte, conte
Me conte tudo que aconteceu
Enquanto longe, eu penava no óbvio
Eu andava, eu andava...
Brincava na louca corda bamba esticada
Sem samba, sem bloco, sem rima, sem nada

Abre teus braços castos, teus armários
Guarda tudo de mim, que assim sou bem maior
Sei de cor - sou do teu lado - afastado - eu não sou
Sou pior, nem sou eu
Adeus ilusão, leva só o que é teu
Que meu canto agora, ecoa lá fora e aponta pra fé
Bem-me-quer, até onde o destino não viu passar
Mas sentiu que o rio só da pé
Pra quem quer chegar

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Com-postas de Ex-pressões

Eu só, e só eu sou
Cem razões para chorar
Feito um pesca-dor
Fisguei a maior dor de amar

Quis quase tudo, menos-prezei
Extra-vaguei por aí
Me vi na contra-mão que eu te dei

Algo me chamou para brincar lá fora
E eu não fui
Não me engana desta vez
As cirandas do mau
Sempre vêm em mais de três

Na porta
Me deparo com a fecha-dura vida de viver
A chave presa, e justo hoje
Que eu tinha tanto a não fazer

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Bagagem

Sinto que vou fechar meu livro e abandonar o barco
Fica difícil navegar com tanta bagagem
E um falso sorriso
É uma carga muito pesada pra viagem

Bolsas de ombro, alforjes sem perdão
Malas, mochilas de ilusão
Juras vãs, nau na tempestade
E uma metade em cada mão

Vou vestir minha sombra e dar partida
Me apaniguar com sete pedras e sete vidas
Zarpar, deixando o cais partido
Desprezando gagemba e gembaga
Anagramas que navegam sem sentido

Malquerença

Abarcado em solidão
Eu ponho o ódio pra cuidar de tudo
Visto armadura e escudo
Solto a mão do mal comum
Pra criar meus próprios medos
E em segredo, te conto
Que ainda é muito cedo pra matar

Vou sufocar com amargura
Toda dor dentro do peito
E por direito de penar
Derrubo a ponte rio adentro
No teu momento de passar